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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012


MORRE DEÍFILO, NASCE UMA NOVA ESTRELA NO CÉU

Carlos Roberto de Miranda Gomes, escritor e advogado

            Veio ao mundo no espaço de Areia Branca, mas a cidade do Natal acolheu o seu corpo físico em vida e no instante final da sua existência nesta dimensão da vida.
            Na verdade DEÍFILO GURGEL foi um cidadão do mundo, das noites e dos dias, dos folguedos, da terra-mãe, dos costumes e da alegria dos seus concidadãos.
           Poucos tiveram tanto merecimento à imortalidade quanto ele, mesmo sem ter alcançado uma cadeira na Academia de Letras do Rio Grande do Norte.    
           A humanidade ficou mais pobre hoje, mas o Céu se rejubila com a sua chegada e sua recepção será exuberante, pois ali encontrará Enélio, que partiu 30 dias antes e já deverá estar agregando os amigos intelectuais e os humildes que ele sempre prestigiou, como  D. Militana, o rabequeiro André, e pelos três Chicos, o coquista Chico Antônio, o mamulengueiro Chico Daniel, o entalhador Chico Santeiro, pelo cantador Fabião das Queimadas, pelo conterrâneo Tico da Costa, e tantos outros que ele soube respeitar e engrandecer na sua simplicidade imortal.

            Todos nós sentimos a sua partida, como se perdesse um ente querido da família. O seu valor ficará registrado na história, pois vai-se o corpo, mas fica o espírito de um dos mais belos filhos desta terra de Poti. Certamente que será louvado por todas as entidades culturais do Rio Grande do Norte, principalmente aquelas das quais foi fundador - União Brasileira de Escritores do RN e o Instituto Norte-Riograndense de Genealogia.
         (escrito em 06.02.2012)_____
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ENÉLIO LIMA PETROVICH

A família de ENÉLIO LIMA PETROVICH, representada pelos seus membros
Maria do Perpétuo Socorro Galvão Petrovich (Miriam Petrovich), Lirian e Júlio Cesar, Célio e Maria do Livramento, Enélio Antonio e Ana Carla, e respectivos netos, fizeram celebrar a Missa de 30° dia, em sufrágio da sua alma, realizada ontem, dia 06-02-2012, às 17:00, no Convento Santo Antonio (Igreja do Galo), em Cidade Alta.
Compareceram os seus familiares e grande quantidade de amigos e admiradores. O INRG se fez representar por vários confrades.
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DEÍFILO GRUGEL

ORMUZ BARBALHO SIMONETTI (Presidente do Instituto Norte-Riograndense de Genealogia-INRG, membro do IHGRN e da UBE-RN)

www.ormuzsimonetti@yahoo.com.br
(PUBLICADO NO PERIÓDICO “O JORNAL DE HOJE” EDIÇÃO DE 03 DE MARÇO DE 2011)



DEÍFILO GURGEL, O POETA DE AREIA BRANCA

. . . por isso fazia seu grão de poesia, e achava bonita a palavra escrita, por isso sofria, de melancolia, sonhando o poeta que quem sabe um dia . . . poderia ser.
(O Poeta Aprendiz - Vinícius de Morais)

De todos os e-mail e telefonemas que recebi parabenizando-me pela matéria publicada nesse periódico, intitulada VIAGEM INSÓLITA, um deles me deixou particularmente envaidecido. Por ocasião da publicação da segunda crônica - dividida em quatro partes e publicadas todas as sextas-feiras durante o mês de fevereiro - me encontrava na praia da Pipa, quando o telefone tocou: era o meu amigo escritor, poeta e folclorista Deífilo Gurgel. Tivemos uma longa e agradável conversa.

Ele com sua peculiar gentileza elogiou a iniciativa e disse, entre outras coisas, que vinha acompanhando com muito interesse, todas as etapas da viagem, e ansioso perguntou: “Quando você chega à Areia Branca?” Informei que seria na terceira parte da crônica a ser publicada no dia 18. Disse ainda que quando retornasse a Natal iria lhe fazer uma visita em agradecimento ao seu simpático telefonema e aproveitaria o ensejo, para lhe entregar o diploma de sócio fundador do INRG- Instituto Norte-Riograndense de Genealogia.

Na minha modéstia experiência de vida, poucas pessoas conheci tão apaixonado por sua terra e suas tradições, como o poeta Deífilo Gurgel. Sentado em seu terraço, conversamos por mais de duas horas sem sentir o tempo passar. Foi comovente ver aquele homem falar com tanto amor e entusiasmo do seu torrão. As lembranças fluíam naturalmente. Ele às vezes de olhos fechado, lembrava de coisas do seu tempo de menino. Parecia viver aqueles momentos mágicos, de anos que já vão longe. Ali estava um homem-menino sentado em seu terraço, mas os pensamentos repousavam na distante Areia Branca de sua infância.

Entendi que naquele instante era somente a presença física do homem Deífilo, pois seus pensamentos estavam viajando para muitos anos atrás. Era sua infância de menino irrequieto, que andava pelas ruas de areia da velha cidade, que passarinhava nas redondezas e gostava de ver a “revoada dos maçaricos por entre as várzeas de pirrixiu”. Era o menino que corria por entre as matas de matapasto em brincadeira com outras crianças do lugar. Era o observador atento das “moças debruçadas na janela” e do vai e vem dos barcos que atracavam no cais de sua infância, da sua querida Areia Branca. Fiquei em silêncio observando aquele homem em seus devaneios.

Foi emocionante ver que ali estava uma pessoa realizada em todos os sentidos. Bom filho, bom pai, avô extremoso e amigo fraterno, onde do alto dos seus 85 anos de idade, bem vividos, enquanto muitos se sentem incapacitados e se entregam a uma cadeira de balanço na sala de televisão, o poeta-pesquisador está em plena atividade. Continua pesquisando o nosso folclore e escrevendo poemas maravilhosos. Tudo registrado em livros publicados e os ainda a publicar. Gosta de receber em sua morada os amigos para um papo descontraído e ao final da conversa, o interlocutor sabe que sai daquele encontro, muito mais rico de conhecimento.

O seu ritmo de trabalho é invejável. É de sua natureza produzir o máximo que for possível, pois anseia em deixar uma obra literária, que certamente será bem aproveitada e agradecida pelas futuras gerações. São tantas suas atribuições, que o dia se torna insuficiente para dar conta de todos seus compromissos.

Como havia prometido, passei as suas mãos o diploma de Sócio Fundador do INRG- Instituto Norte Rio-Grandense de Genealogia, fato que muito nos honra e engrandece nossa Instituição. Na ocasião fui por ele presenteado com um de seus livros de poemas, OS BENS AVENTURADOS. No tópico “As cidades submersas”, me encantei com uma declaração de amor a sua terra natal no poema “AREIA BRANCA, MEU AMOR”. Tive o prazer e o privilégio de tê-lo escutado, quando dessa visita, recitado pelo próprio autor. Saí daquele encontro muito feliz, assim como todos os que tiveram o prazer de sentar a sombra de sua varanda, para escutar e aprender um pouco, do muito que o poeta tem a ensinar.

Transcrevo na íntegra a poesia Areia Branca, Meu Amor, para o deleite dos leitores:

A cidade adormecida,
no coração do poeta,
entre pregões matinais,
subitamente, desperta.

Para trás da Serra Vermelha,
nasce a manhã, nas levadas,
na solidão das salinas,
nas águas envenenadas.

Maçaricos alçam vôo,
nas várzeas de pirrixiu.
pescadores solitários,
pescam o silêncio do rio.

Num bosque de matapasto,
atrás de Amaro Besouro,
desabrocha o fumo bom,
em fino cálices de ouro

Calafates calafetam
velhos barcos irreais.
Moinhos movem o vento,
nas tardes do nunca mais.

O sol se pondo na Barra,.
entre mangues e canoas,
põe rebrilhos de vitrilhos,
nas marolas das gamboas.

A noite cai. Cães vadios
ladram na rua, à distância.
Deslizam sombras esquivas,
nas esquinas da lembrança.

Todos os que se mudaram
para o outro lado da vida
e dormem, no cemitério
da cidade adormecida,

vêm a mim, me cumprimentam,
me comovo ao recebê-los,
baila uma fina poeira,
em torno dos seus cabelos.

Converso com Pum-na-guerra,
Fumo-bom e Baranhaca.
Abraço Maria Mole,

Ciço Cabelo de Vaca.

Passo no Canal do Mangue,
vou à Fuzaca, à Favela.
Na rua da frente há moças
debruçadas na janela.

D. Adelina me argúi
na taboada e ABC.
Começa tudo de novo,

Pela estrada do aprender.

Ouço as valsas da Água Doce,
nas tardes de antigamente.
entre Bois e Pastoris,
sou menino novamente.

As ruas se embandeiraram,
Há lanternas pelas portas.
São João acorda, entre o riso
de pessoas que estão mortas.

Os pés do menino vão
nessas ruas do sem-fim.
O tempo não conta mais,
partiu-se, dentro de mim.

Nesse burgo de lembranças,
guardado pela memória,
minha vida se inicia,
recomeça minha história.




































UM SER HUMANO DA MAIOR GRANDEZA
Carlos Roberto de Miranda Gomes, escritor e advogado
Mesmo sem ter alcançado a Academia de Letras do Rio Grande do Norte, DEÍFILO GURGEL já é considerado imortal no conceito da sociedade e no amor da população mais humilde.

Nascido em Areia Branca no dia 22 de outubro de 1926, mas residindo em Natal desde 1944, tornou-se de fato e de direito cidadão de todas as cidades.
Apesar de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Natal, e tendo exercido muitas atividades no campo público e privado, como funcionário do antigo Banespa, onde o conheci na Rua Frei Miguelinho, depois exerceu as funções de diretor do Departamento de Cultura da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC), de Natal; diretor de Promoções Culturais da Fundação José Augusto (FJA); professor de Folclore Brasileiro na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), na verdade, a cultura foi o motivo de sua vida.

Poeta, jornalista,pesquisador, folclorista, Deífilo Gurgel foi múltiplo em sua obra literária, com destaque para O Diabo a Quatro (inédito), Romanceiro de Alcaçus (Natal: UFRN, 1993),Romanceiro Potiguar (inédito), Manual do Boi Calemba (Natal: Nossa Editora, 1985), Danças Folclóricas do Rio Grande do Norte (Natal: EDUFRN, 1995, ed.5), João Redondo - Teatro de Bonecos do Nordeste (UFRN-Vozes-Petrópolis, 1986), Câmara Cascudo - um sábio jovial. Discurso de Posse na Academia Mossoroense de Letras (Coleção Mossoroense, série B, n.º 683, Mossoró, 1989), 7 Sonetos do Rio e Outros Poemas (Natal: EDUFRN, 1983), Os Dias e as Noites (Natal: Ed. Clima, 1.ed., 1979), Areia Branca - a terra e a gente, um documento onde Deífilo Gurgel resgata a história do município e que hoje é utilizado como fonte de pesquisa pelos estudantes.

Seu último livro "Romanceiro Potiguar", está pronto para lançamento, patrocínio da Fundação José Augusto reúne 300 romances medievais, cantos de incelências que ele coletou durante 1985 e 1995, com algumas atualizações nos anos seguintes, e mais de 100 entrevistas realizadas.

Como pesquisador trilhou os caminhos do Rio Grande do Norte para levantar o acervo de romances ibéricos imortalizados por nomes como Dona Militana, de São Gonçalo do Amarante. "Não imaginava que encontraria tanta coisa!", frisou o autor durante uma de suas entrevistas concedidas à TRIBUNA DO NORTE no ano passado - sua pesquisa se contrapõe à constatação de Mário de Andrade, musicólogo e historiador que circulou pela região na década de trinta catalogando as sonoridades nordestinas. "Andrade reclamou de não ter encontrado romances por aqui, mas temos que ver ele passou um mês e meio no RN e andou pouco".

Sua cátedra na nossa Universidade Federal, era o Folclore Brasileiro, tendo recebido todo o apoio para viabilizar a divulgação de suas pesquisas.

Descobriu romances que antes só havia registro de versões em espanhol como "Milagre do Trigo", apresentado por Dona Militana. Outro destaque de seu trabalho foi o romance "Paulina e Don João", recitado por Dona Maria de Aleixo em Nísia Floresta. A terceira descoberta destacada por Gurgel foi o romanceiro Pedro Ribeiro, de São Pedro do Potengi. "Seu Pedro conhecia cantigas antigas dos tempos áureos da pecuária potiguar. Cantou vários fragmentos de romances criados por Fabião das Queimadas (1848-1928)", lembrou.

Retratado pelos amigos e biografado por nomes da intelectualidade brasileira, Deífilo Gurgel é reconhecido como um dos maiores folcloristas brasileiros, aptidão que somente descobriu aos 40 anos de idade, gênero que passou a ser o da sua preferência.

Registram os seus admiradores que existem algumas obras inéditas a publicar, como "Espaço e tempo do folclore potiguar", "Romanceiro potiguar", "No reino de Baltazar" e "O diabo a quatro" e há referência a outros trabalhos que pesquisou como o "Cavalo Moleque Fogoso", de Fabião das Queimadas, sobre quem fez um filme divulgado em DVD.

Sobre sua trajetória intelectual toda a cidade conhece e reconhece o valor incomensurável, como se comprova com depoimento de Iaperi Araújo, poeta, escritor e da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras: "Eis o mérito do professor Deífilo Gurgel: buscou as fontes primárias. Palmilhou os caminhos do Rio Grande do Norte de máquina fotográfica e gravador a tiracolo, ouvindo gente, batendo em portas e sentando-se nos terreiros das casas humildes para ouvir contarem os fragmentos desbotados da tradição popular". Recentemente o JH publicou expressivo trabalho de Ormuz Barbalho Simonetti, fora testemunhos incontáveis nos blogs e outros meios virtuais de comunicação ou entrevistas de intelectuais com divulgação em revistas e jornais.

No início desta semana surgiu uma notícia equivocada sobre o seu encantamento da vida terrena, motivando inúmeros pronunciamentos. Esclarecido o engano, a família passou a comandar as notícias oficiais, dando conta do seu precário estado de saúde.

O fato deve motivar que se reflita sobre este ser humano da maior grandeza e desperte o empenho da nossa Academia de Letras a apressar a ratificação do seu nome como novo imortal, no campo da formalidade, porquanto ele já é considerado uma bandeira de cultura, pois a sua obra impõe o registro na nossa história.

Considerado um "provinciano incurável", como Luís da Câmara Cascudo, passou toda a sua vida proclamando as nossas raízes históricas e populares, seguindo a trilha dos imortais Cascudinho e Vivi, revelando ao grande público a criatividade de dançadores de folguedos populares como Manoel Marinheiro, do Mestre Pedro Guajiru, a romanceira D. Militana, os rabequeiros André e Cícero Joaquim, os pelos três Chicos, o coquista Chico Antônio, o mamulengueiro Chico Daniel, o entalhador Chico Santeiro e o cantador Fabião das Queimadas, e tantos outros que ele soube respeitar e engrandecer na sua simplicidade imortal.
Surpreendido com a falsa notícia, também me apressei em homenageá-lo, depois suspendi a divulgação do meu modesto trabalho, quando fui incentivado pelo amigo Marcos Guerra a prestar a homenagem a Deífilo, quando vivo, o que agora faço, rogando a Deus pelo seu restabelecimento para que nos seja permitido assistir a sua solenidade de colocação do pelerine e do colar da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras.

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