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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Colonização e Povoamento do Apodi (I) - O Marco Zero

COLONIZAÇÃO E POVOAMENTO DO APODI (I) -
O MARCO ZERO.
Marcos Pinto
Processo histórico lento e gradual da ocupação do adusto solo sertanejo, em que consubstancia-se a trajetória de bravura e pujança da honrada família NOGUEIRA, rasgando os sertões da Paraíba para penetrar o "Vale do Jaguaribe", por onde alcançaram a ignota serra, reduto de ferozes indígenas, seguindo suas veredas para, sob a tutela dos seus facões, alargarem-nas e transformarem-nas em picadas, fato referencial que fez com que passassem a denominá-la em batismo toponímico de "SERRA DA PICADA".No silêncio cheio de sol, ao aproximarem-se das terras que se estiravam das bordas da serra para uma piscosa lagoa, tiveram desse portal uma bela visão panorâmica, sedutora e misteriosa.
Do alto da serra, o céu vestia-se de um azul intenso, e mais azul do que ele, os vultos das altaneiras serras do Patu, Portalegre e Martins, perfilando-se em aparados ou talhados. Embriagados de notáveis emoções, divisaram o vasto carnaubal cobrindo de verde as férteis terras de aluvião,que embalavam e ainda embalam nas tardes mornas o farfalhar dos seus leques em misteriosas coreografias. Batizariam com o pomposo referencial toponímico de "Várzeas do Pody", denominação esta que, no ano de 1761, o Juiz Miguel Carlos de Pina Castelo Branco ampliara para "Povoação das Várzeas do Apody". Nesse cenário extasiante sobressaíam-se as contagiantes "vazantes" da lagoa, ampliando o encantamento do elemento branco povoador. Aquí e alí cortava o silêncio o canto característico das seriemas, em seu cacarejo metálico.
Nos primeiros e temerosos contatos com a indiada tapuias paiacus, em que predominavam as recíprocas desconfianças e precauções, os Nogueira devem terem visto e ouvido, curiosos, os silvícolas apontarem para o chão e baterem fortemente nos peitos, a afirmarem em sua linguagem travada, que eram senhores absolutos da terra PODY. Amainados os ânimos da indiada da nação Tarairiús, os NOGUEIRA trataram logo de requerem as primeiras "Datas de Sesmarias", açambarcando, como lhes era de direito, as melhores terras, englobando toda a várzea até as que margeavam a lagoa, estendendo-se até o sopé da serra que eles passaram a denominar, em seus requerimentos de sesmarias, de "SERRA PODY DOS ENCANTOS". Quando as terras requeridas eram distantes, já vizinhas ao Ceará, afirmavam que as terras eram situadas na "SERRA PODY DOS ENCANTOS PARA FORA". Apos todos os ingentes esforços empreendidos na conquista das terras, os bravos NOGUEIRA depararam-se com a insana concorrência dos sesmeiros baianos da família ROCHA PITA, que pleiteavam forçosamente o senhorio das terras requeridas pelos NOGUEIRA, situadas na margem sul da lagoa, onde hoje situa-se o sítio "Garapa", e outros vizinhos, medindo três léguas de comprimento por uma de largura. Não havia como os NOGUEIRA perderem suas concessões sesmeiras, posto que requereram em início do mês de Maio de 1680, e no dia 19 do mesmo mês e ano eram-lhes concedidas pelo então Capitão-Mór do RN. Os ROCHA PITA requereram somente em Junho de 1680.
Na epopéia colonizadora, os indômitos NOGUEIRA protagonizaram incontáveis fatos históricos, num processo evolutivo e audacioso, escrevendo o capítulo especial do povoador inicial, empregando a pólvora e o aço viril, contra o arco e a flecha, tão bem manejadas pelas hábeis mãos da indiada, até então com o senhorio absoluto das plagas de terras ardentes.
Como os tapuias paiacus tinham sua taba principal situada nas terras onde hoje estão encravados os sítios "Barra", "Ponta", "Largo" e "Estreito", a família NOGUEIRA optou por fixarem moradia no outro lado da lagoa, no lugar onde atualmente está encravado o sítio "Garapa", que os NOGUEIRA batizaram inicialmente com o nome de "Braço da lagoa do Cajueiro".  Baseado nesta minudência histórica e geográfica, poder-se-á afirmar que este lugar assume a emblemática conotação geográfica de ter sido "O MARCO ZERO DA COLONIZAÇÃO E POVOAMENTO DO APODI". Depois de inúmeros embates, os NOGUEIRA contaram com o reforço bélico do famoso "Terço dos Paulistas", comandado pelo célebre bandeirante paulista  Manoel Álvares de Morais Navarro, em cujas hostes figurava o não menos temido DOMINGOS JORGE  VELHO. Na celebrada obra histórica intitulada "A GUERRA DOS BÁRBAROS", consta um grande embate da indiada tapuia paiacus com o "Terço dos  Paulistas", ocorrido nas margens da lagoa de Apodi, cuja luta teve a duração de três dias.(Vide págs. 181,230,255 e 277). Estranha-se o fato de que os NOGUEIRA não tenham contado com a ajuda espiritual de um sacerdote para ajudá-los no difícil momento do encontro primeiro com a indiada.
            Quanto ao venerando capítulo da CATEQUESE INDÍGENA em terras Apodienses, há um longo hiato de 20 anos (1680-1700), posto que, somente em 10 de Janeiro de 1700 os abnegados e virtuosos padres Jesuítas PHILIPE BOUREL e JOÃO GUINCEL declaram oficialmente instalada a "MISSÃO JESUÍTA DA ALDEIA DO LAGO PODY". (Vide livro "HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NO BRASIL" - Tomo V - Autor: Padre Serafim Leite).

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