LUIZ DA CÂMARA CASCUDO
Aos 20 anos, em 1918, fez sua estréia nas páginas de A Imprensa, o jornal do seu pai. Foi o repórter que acompanhou Joca do Pará numa reportagem sobre as rondas da polícia montada vigiando a noite da cidade. Aos 21,fez sua estréia como escritor ao lançar seu primeiro livro - Alma Patrícia, há noventa anos. E há 25 anos fechou seus olhos para sempre, aos oitenta e seis anos e mais de uma centena de livros. Genial e humilde. Pobre e feliz.
Filho único de Francisco Justino de Oliveira Cascudo e Ana Maria da Câmara Cascudo, ele comerciante e coronel da Guarda Nacional, ela dos afazeres do-mésticos, nasceu Luís da Câmara Cascudo em Natal, a 30 de dezembro de 1898, onde viveu 88 anos até seu coração parar na tarde do dia 30 de julho de 1986.
Na água do primeiro banho, a mãe despejou um cálice de vinho do Porto para ter saúde e o pai temperou com um patacão do Império, para ganhar fortuna. O padre João Maria, o santo da cidade, batizou-lhe na Igreja do Bom Jesus Dores, na Ribeira, ali onde nasceu, anunciando seu nome em latim: Ludovi-cus! E a poetisa Auta de Souza, amiga de sua mãe, embalou nos braços tépidos, o choro forte do menino-homem.
Como o sobrevivente de quatro irmãos, teve a infância guardada entre cuidados com ama de companhia, professora particular e proibido do encanto das ruas. No verão, vivia os dias de calor na beira do mar, entre barcos e pescadores, e o inverno passava no sertão, ouvindo o aboio dos vaqueiros e o desafio de cantado. E assim sedimentou, entre espumas e espinhos, a sua cultura descobridora do homem brasileiro.
Desejou ser um nobre médico de província e chegou a cursar os primeiros anos Faculdade de Medicina da Bahia e no Rio de Janeiro. Mas terminou cumprindo destino de ser bacharel em Direito, na velha Faculdade de Direito do Recife onde ainda ouviu o eco dos discursos de Joaquim Nabuco e Tobias Monteiro versos de Castro Alves horrorizados com a escravidão.
Sonhou ser jornalista, e foi. Seu pai, nessa época ainda um homem rico, instalou o jornal A Imprensa para o filho. Nas suas páginas, o estudante que lia até a madrugada, passou a exercitar o gosto de escrever, mantendo a coluna Bric-à-Brac, na qual treinou seu olhar perscrutador observando costumes, hábitos e tradições de seu povo. Um repórter a registrar os quadrantes da vida comum.
O primeiro livro, Alma Patrícia, um olhar pioneiro sobre os poetas e prosado-res de sua cidade, sai dos prelos em 1921. Na véspera da Semana de Arte Moderna de 1922 que aconteceria, meses depois, em São Paulo. O movimento estético encontrou no jovem escritor natalense um dos precursores no Nordeste. O professor de História que se revelara com as biografias do Marquês de Olinda e do Conde d'Eu, publicadas na Coleção Brasiliana, foi além dos feitos históricos. Voltou seu olhar para o Brasil para ser um dos grandes fundadores do homem brasileiro, ao lado de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda
Leitor dos clássicos e das vanguardas dos anos vinte, não demorou a entrar sintonia com os modernistas. Colaborou nas suas revistas, recebeu Mário de Andrade em Natal, e começou a sua construção da cultura popular do seu povo. Ergueu as bases da etnologia, psicologia, antropologia e sociologia do homem brasileiro, vendo e ouvindo, anotando e estudando. Crenças e costumes, hábitos e tradições, cantos e danças, jogos e técnicas, no lazer e no trabalho, na vida e na morte - tudo para conhecê-lo na sua riqueza, singularidade, mutações e permanências.
No final dos anos trinta, lança Vaqueiros e Cantadores e fixa seu nome como legenda nos estudos folclóricos que chamaria de Ciência do Povo. Funda a Sociedade Brasileira de Folclore; propõe uma teoria em tomo do conceito de Cultura Popular; ergue com erudição o corpus conceitual da Literatura Oral no Brasil e sistematiza sua classificação; e faz a sua longa viagem de estudos ao continente africano, como um grande viajante do Século XX, para beber nas fontes ancestrais o vinho arcaico do passado e escrever Made in África, restauração da arqueologia cultural brasileira, cartografia indispensável à compreensão das nossas raízes que pareciam perdidas há cinco séculos. .
Autor de verdadeiros clássicos da cultura brasileira, como o Dicionário do Folclore, Cultura e Civilização, História da Alimentação e História dos Nossos Gestos; ensaísta insuperável da Jangada e da Rede de Dormir; etnólogo dos costumes e superstições; tradutor de Montaigne e Henry Koster; estudioso das lendas, da novelística popular, dos contos infantis, e observador dos medos e assombrações, a obra de Câmara Cascudo é um vasto continente a contracenar com um arquipélago de ilhas temáticas nascidas de todos os seus olhares e saberes específicos articulados entre si.
Com mais de uma centena de títulos. entre livros, traduções, opúsculos, e alguns milhares de artigos publicados no Brasil e em vários países, traduzido na França, Itália, Espanha e Japão, viveu como um descobrir, vendo e ouvindo, lendo e perguntando, anotando e escrevendo, sem nunca pensar em deixar a sua terra Natal, entre o rio, o mar e os morros, traços de sua própria fisionomia. Ainda nos anos trinta, o seu pai ficou pobre e o menino virou arrimo de família com a rica fortuna de um destino que faria de sua obra uma marca vitoriosa na história intelectual do Brasil.
Uma vez, em 1960, foi convidado para reitor da Universidade Nacional de Brasília pelo próprio presidente Juscelino Kubitschek que veio a Natal visitá-lo. Não aceitou. Convidado para ensinar em várias universidades da América Latina, Europa e Estados Unidos, nunca aceitou. Quando se negou a lançar a sua candidatura à Academia Brasileira e Letras, Afrânio Peixoto, seu amigo, in¬conformado em não vê-lo imortal, biografou numa frase perfeita o traço mais determinante de sua personalidade de espírito e de gênio: Câmara Cascudo é um provinciano incurável.
Luis da Câmara Cascudo viveu e morreu na sua aldeia Genial e humilde. Pobre e feliz.
Vicente Serejo 31/07/2011
Filho único de Francisco Justino de Oliveira Cascudo e Ana Maria da Câmara Cascudo, ele comerciante e coronel da Guarda Nacional, ela dos afazeres do-mésticos, nasceu Luís da Câmara Cascudo em Natal, a 30 de dezembro de 1898, onde viveu 88 anos até seu coração parar na tarde do dia 30 de julho de 1986.
Na água do primeiro banho, a mãe despejou um cálice de vinho do Porto para ter saúde e o pai temperou com um patacão do Império, para ganhar fortuna. O padre João Maria, o santo da cidade, batizou-lhe na Igreja do Bom Jesus Dores, na Ribeira, ali onde nasceu, anunciando seu nome em latim: Ludovi-cus! E a poetisa Auta de Souza, amiga de sua mãe, embalou nos braços tépidos, o choro forte do menino-homem.
Como o sobrevivente de quatro irmãos, teve a infância guardada entre cuidados com ama de companhia, professora particular e proibido do encanto das ruas. No verão, vivia os dias de calor na beira do mar, entre barcos e pescadores, e o inverno passava no sertão, ouvindo o aboio dos vaqueiros e o desafio de cantado. E assim sedimentou, entre espumas e espinhos, a sua cultura descobridora do homem brasileiro.
Desejou ser um nobre médico de província e chegou a cursar os primeiros anos Faculdade de Medicina da Bahia e no Rio de Janeiro. Mas terminou cumprindo destino de ser bacharel em Direito, na velha Faculdade de Direito do Recife onde ainda ouviu o eco dos discursos de Joaquim Nabuco e Tobias Monteiro versos de Castro Alves horrorizados com a escravidão.
Sonhou ser jornalista, e foi. Seu pai, nessa época ainda um homem rico, instalou o jornal A Imprensa para o filho. Nas suas páginas, o estudante que lia até a madrugada, passou a exercitar o gosto de escrever, mantendo a coluna Bric-à-Brac, na qual treinou seu olhar perscrutador observando costumes, hábitos e tradições de seu povo. Um repórter a registrar os quadrantes da vida comum.
O primeiro livro, Alma Patrícia, um olhar pioneiro sobre os poetas e prosado-res de sua cidade, sai dos prelos em 1921. Na véspera da Semana de Arte Moderna de 1922 que aconteceria, meses depois, em São Paulo. O movimento estético encontrou no jovem escritor natalense um dos precursores no Nordeste. O professor de História que se revelara com as biografias do Marquês de Olinda e do Conde d'Eu, publicadas na Coleção Brasiliana, foi além dos feitos históricos. Voltou seu olhar para o Brasil para ser um dos grandes fundadores do homem brasileiro, ao lado de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda
Leitor dos clássicos e das vanguardas dos anos vinte, não demorou a entrar sintonia com os modernistas. Colaborou nas suas revistas, recebeu Mário de Andrade em Natal, e começou a sua construção da cultura popular do seu povo. Ergueu as bases da etnologia, psicologia, antropologia e sociologia do homem brasileiro, vendo e ouvindo, anotando e estudando. Crenças e costumes, hábitos e tradições, cantos e danças, jogos e técnicas, no lazer e no trabalho, na vida e na morte - tudo para conhecê-lo na sua riqueza, singularidade, mutações e permanências.
No final dos anos trinta, lança Vaqueiros e Cantadores e fixa seu nome como legenda nos estudos folclóricos que chamaria de Ciência do Povo. Funda a Sociedade Brasileira de Folclore; propõe uma teoria em tomo do conceito de Cultura Popular; ergue com erudição o corpus conceitual da Literatura Oral no Brasil e sistematiza sua classificação; e faz a sua longa viagem de estudos ao continente africano, como um grande viajante do Século XX, para beber nas fontes ancestrais o vinho arcaico do passado e escrever Made in África, restauração da arqueologia cultural brasileira, cartografia indispensável à compreensão das nossas raízes que pareciam perdidas há cinco séculos. .
Autor de verdadeiros clássicos da cultura brasileira, como o Dicionário do Folclore, Cultura e Civilização, História da Alimentação e História dos Nossos Gestos; ensaísta insuperável da Jangada e da Rede de Dormir; etnólogo dos costumes e superstições; tradutor de Montaigne e Henry Koster; estudioso das lendas, da novelística popular, dos contos infantis, e observador dos medos e assombrações, a obra de Câmara Cascudo é um vasto continente a contracenar com um arquipélago de ilhas temáticas nascidas de todos os seus olhares e saberes específicos articulados entre si.
Com mais de uma centena de títulos. entre livros, traduções, opúsculos, e alguns milhares de artigos publicados no Brasil e em vários países, traduzido na França, Itália, Espanha e Japão, viveu como um descobrir, vendo e ouvindo, lendo e perguntando, anotando e escrevendo, sem nunca pensar em deixar a sua terra Natal, entre o rio, o mar e os morros, traços de sua própria fisionomia. Ainda nos anos trinta, o seu pai ficou pobre e o menino virou arrimo de família com a rica fortuna de um destino que faria de sua obra uma marca vitoriosa na história intelectual do Brasil.
Uma vez, em 1960, foi convidado para reitor da Universidade Nacional de Brasília pelo próprio presidente Juscelino Kubitschek que veio a Natal visitá-lo. Não aceitou. Convidado para ensinar em várias universidades da América Latina, Europa e Estados Unidos, nunca aceitou. Quando se negou a lançar a sua candidatura à Academia Brasileira e Letras, Afrânio Peixoto, seu amigo, in¬conformado em não vê-lo imortal, biografou numa frase perfeita o traço mais determinante de sua personalidade de espírito e de gênio: Câmara Cascudo é um provinciano incurável.
Luis da Câmara Cascudo viveu e morreu na sua aldeia Genial e humilde. Pobre e feliz.
Vicente Serejo 31/07/2011
A VIAGEM PARA O VERANEIO
GOIANINHA EM 1928 DOIS ANOS APÓS O PRIMEIRO VERANEIO
Era grande a expectativa que causava, nos dias que antecediam a viagem para a Praia da Pipa. Dias antes, o meu avô Odilon Barbalho mandava um portador a Pipa, com recado ao seu compadre Antônio Pequeno (o Velho), que era delegado distrital e exercia grande influência em toda a comunidade. Pedia que iniciasse, com alguns homens, uma “picada” com destino a Piau.
DISTRITO DE PIAU-MUNICÍPIO DE TIBAU DO SUL
Ele, por sua vez, também iniciava, com seus empregados, outra picada partindo de Piau com destino a Pipa. Era um percurso de doze quilômetros que atravessava tabuleiros cobertos de fruteiras silvestres, como mangabeiras, cajueiros e mais perto da praia, multiplicavam-se os pés de camboim, maçaranduba, guabiraba, murta, murici, cajarana, camaci, maria-preta, ubaia doce e azeda etc.
MANGABEIRAS COBRINDO A ESTRADA
Quando os trabalhadores se encontravam, estava concluída a estrada que iria conduzir a caravana de veranistas ávidos em passar todo o mês de janeiro desfrutando das águas mornas do mar da Pipa. Foram os carros de boi do meu avô Odilon Barbalho, os primeiros veículos movidos à tração animal, a chegar a Praia da Pipa, em janeiro de 1926.
HOMENS ABRINDO PICADA NO TABOLEIRO
A viagem era sempre feita à noite para poupar homens e animais do escaldante sol do mês de janeiro. As famílias, com suas tropas de burros de carga, carros de boi, charretes e cabriolés, reuniam-se no oitão da igreja matriz. Por volta das sete horas da noite iniciavam a viagem. As moças e os rapazes montavam cavalos. As moças e senhoras, naquela época, utilizavam uma sela chamada silhão. Era um tipo de sela maior que as normais, com estribo apenas em um dos lados, onde a pessoa ficava com um dos pés no estribo e curvava a outra perna sobre um arção semicircular. Era apropriada para moças e senhoras quando cavalgavam de saias.
A VIAGEM ERA FEITA AO CAIR DA TARDE
Os carros de boi além de carregar pessoas, levavam alguns móveis, como camas e pequenos armários. Levavam, ainda, vários utensílios domésticos e todas as tralhas que compõem uma cozinha.
Rapazes e moças seguiam na frente, com suas velozes montarias. Disputavam corridas e faziam diversas brincadeiras ao longo da viagem. Era comum que algumas pessoas, com habilidade para tocar instrumentos musicais, levassem violões, concertinas, triângulos, pandeiros e zabumbas, para animar a longa viagem.
TOCADORES ANIMAVAM A VIAGEM
A primeira parada era no distrito de Piau, que significava a metade do caminho a percorrer. Daí pra frente, a estrada se transformava em picada, e a viagem se tornava mais lenta e penosa, principalmente para os animais de carga e tração. O solo ficava mais arenoso, o que facilitava o atolamento dos carros de boi que tinham rodas de madeira muito finas para aquele tipo de terreno e carregavam a maior parte do peso.
Durante essa parada, por volta da meia noite, as mulheres aproveitavam para cuidar das crianças e comer algum lanche trazido para a ocasião. Aproveitavam, também, para utilizar os sanitários (latrinas) da casa dos compadres. Os homens geralmente iam para as bodegas e vendas para tomar uns tragos de boa cachaça de cabeça produzida nos engenhos da região.
CARROS DE BOIS TRANSPORTAVAM PESSOAS E UTENSÍLIOS DOMÉSTICOS
Em seguida, retomavam o caminho seguindo pela picada previamente aberta. Nesse tipo de solo a caravana seguia com mais dificuldade. Depois de três a quatro horas de viagem chegava ao Rio Galhardo, onde era feita a última parada. Lá a demora era pequena, somente o tempo de dar água aos animais enquanto algumas pessoas tomavam banho para desenfadar. Com mais hora e meia de viagem chegavam na Praia da Pipa.
LOCAL ONDE PRIMEIRO SE AVISTA A PRAIA DA PIPA- FOTO DE 1970
A ansiedade era tanta, que os rapazes e moças disparavam nos seus cavalos, e logo chegavam à praia. Horas depois chegavam os pesados e vagarosos carros de boi e os animais de carga. Eram recebidos com festa de boas-vindas pelos compadres e moradores do lugar. Era hora de arrumar tudo e começar o tão esperado veraneio.
_________________
GOIANINHA EM 1928 DOIS ANOS APÓS O PRIMEIRO VERANEIO
Era grande a expectativa que causava, nos dias que antecediam a viagem para a Praia da Pipa. Dias antes, o meu avô Odilon Barbalho mandava um portador a Pipa, com recado ao seu compadre Antônio Pequeno (o Velho), que era delegado distrital e exercia grande influência em toda a comunidade. Pedia que iniciasse, com alguns homens, uma “picada” com destino a Piau.
DISTRITO DE PIAU-MUNICÍPIO DE TIBAU DO SUL
Ele, por sua vez, também iniciava, com seus empregados, outra picada partindo de Piau com destino a Pipa. Era um percurso de doze quilômetros que atravessava tabuleiros cobertos de fruteiras silvestres, como mangabeiras, cajueiros e mais perto da praia, multiplicavam-se os pés de camboim, maçaranduba, guabiraba, murta, murici, cajarana, camaci, maria-preta, ubaia doce e azeda etc.
MANGABEIRAS COBRINDO A ESTRADA
Quando os trabalhadores se encontravam, estava concluída a estrada que iria conduzir a caravana de veranistas ávidos em passar todo o mês de janeiro desfrutando das águas mornas do mar da Pipa. Foram os carros de boi do meu avô Odilon Barbalho, os primeiros veículos movidos à tração animal, a chegar a Praia da Pipa, em janeiro de 1926.
HOMENS ABRINDO PICADA NO TABOLEIRO
A viagem era sempre feita à noite para poupar homens e animais do escaldante sol do mês de janeiro. As famílias, com suas tropas de burros de carga, carros de boi, charretes e cabriolés, reuniam-se no oitão da igreja matriz. Por volta das sete horas da noite iniciavam a viagem. As moças e os rapazes montavam cavalos. As moças e senhoras, naquela época, utilizavam uma sela chamada silhão. Era um tipo de sela maior que as normais, com estribo apenas em um dos lados, onde a pessoa ficava com um dos pés no estribo e curvava a outra perna sobre um arção semicircular. Era apropriada para moças e senhoras quando cavalgavam de saias.
A VIAGEM ERA FEITA AO CAIR DA TARDE
Os carros de boi além de carregar pessoas, levavam alguns móveis, como camas e pequenos armários. Levavam, ainda, vários utensílios domésticos e todas as tralhas que compõem uma cozinha.
Rapazes e moças seguiam na frente, com suas velozes montarias. Disputavam corridas e faziam diversas brincadeiras ao longo da viagem. Era comum que algumas pessoas, com habilidade para tocar instrumentos musicais, levassem violões, concertinas, triângulos, pandeiros e zabumbas, para animar a longa viagem.
TOCADORES ANIMAVAM A VIAGEM
A primeira parada era no distrito de Piau, que significava a metade do caminho a percorrer. Daí pra frente, a estrada se transformava em picada, e a viagem se tornava mais lenta e penosa, principalmente para os animais de carga e tração. O solo ficava mais arenoso, o que facilitava o atolamento dos carros de boi que tinham rodas de madeira muito finas para aquele tipo de terreno e carregavam a maior parte do peso.
Durante essa parada, por volta da meia noite, as mulheres aproveitavam para cuidar das crianças e comer algum lanche trazido para a ocasião. Aproveitavam, também, para utilizar os sanitários (latrinas) da casa dos compadres. Os homens geralmente iam para as bodegas e vendas para tomar uns tragos de boa cachaça de cabeça produzida nos engenhos da região.
CARROS DE BOIS TRANSPORTAVAM PESSOAS E UTENSÍLIOS DOMÉSTICOS
Em seguida, retomavam o caminho seguindo pela picada previamente aberta. Nesse tipo de solo a caravana seguia com mais dificuldade. Depois de três a quatro horas de viagem chegava ao Rio Galhardo, onde era feita a última parada. Lá a demora era pequena, somente o tempo de dar água aos animais enquanto algumas pessoas tomavam banho para desenfadar. Com mais hora e meia de viagem chegavam na Praia da Pipa.
LOCAL ONDE PRIMEIRO SE AVISTA A PRAIA DA PIPA- FOTO DE 1970
A ansiedade era tanta, que os rapazes e moças disparavam nos seus cavalos, e logo chegavam à praia. Horas depois chegavam os pesados e vagarosos carros de boi e os animais de carga. Eram recebidos com festa de boas-vindas pelos compadres e moradores do lugar. Era hora de arrumar tudo e começar o tão esperado veraneio.
_________________
Fonte: Blog Genealogia e História - Ormuz Barbalho Simonetti
Nenhum comentário:
Postar um comentário