Cidade Nova, segundo Marcgrave |
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN e membro do IHGRN e do INRG
Muitas localidades desta Capitania do Rio Grande receberam nomes que desafiam nossos historiadores quanto as sua origens.
Quando examinamos o inventário de Domingos Affonso Ferreira vemos que algumas ilhas e sítios receberam nomes de pessoas que não sabemos quem elas eram ou quem colocou tais denominações. Estão lá, Ilha de Manoel Gonçalves, Ilha do Fernando, Ilha do Balthazar, Fazenda Cacimbas do Vianna e Diogo Lopes. Quem foram essas pessoas que deram nomes a essas localidades?
Nos livros que tratam da presença dos holandeses aqui no Brasil, muitos são os nomes e as denominações, a maioria de origem indígena, mas outros tantos surgidos dos seus donos, como Rio Jan Stau (João Lostau), Sítio de João Lostau, Caminho de Garstman e Sítio de Magalhães.
Câmara Cascudo, em Velhas Figuras, escreveu, com data de 20/01/1859, que: Rego Moleiro, historicamente, não tem este nome. Chamava-se Rodrigo Moleiro. Deve ter sido o nome do sesmeiro inicial, batizador da terra na primeira metade do século XVIII.
Mais adiante informa: mudaram-lhe a denominação há quarenta e nove anos passados. Reuniu-se a Intendência Municipal de São Gonçalo em 20 de dezembro de 1910 em sessão cerimoniosa. Era Presidente da Intendência Estevão César Teixeira de Moura, o inesquecido “Coronel Estevão Moura, de São Gonçalo”, e Intendentes Antonio Lucas de Sena, José Pereira Silva Flor, Pedro Xavier de Melo, Vicente Ferreira Fonseca e João Jorge de Sá. Deram ao povoado o predicamento de Povoação e o nome de Alberto Maranhão.
Diz ainda Cascudo que a lei não foi cumprida, pois ninguém chamava Alberto Maranhão, mas Rego Moleiro.
Alguns registros da Igreja trazem o nome de Rodrigo Moleiro, como se pode de ver do batismo seguinte: Antonia, filha natural de Florencia Maria, moradora no Rodrigo Molleiro, nasceu aos dez de novembro de mil oitocentos e dezenove, batizada pelo padre Manoel Fernandes, de licença minha, com os santos óleos a doze de dezembro do mesmo ano; foram padrinhos Miguel, cativo do tenente Alexandre Rodrigues, e Vicência Maria, ambos solteiros desta freguesia; do que fiz este assento no qual me assino. O vigário Francisco Antonio Lumachi de Mello.
No livro No rastro dos Flamengos, Olavo Medeiros escreveu, quando tratava do inquérito do assassinato de Jacob Rabbi: A casa de Muller ficava à margem direita do então riacho Guajaí (Água dos Caranguejos), entre os distritos de Igapó e Santo Antonio do Potengi. Dista cerca de 10,5km da matriz de Natal. Pelas referências holandesas, ficava a três léguas do forte Keulen, seguindo-se por via fluvial. A pé, levava-se cinco horas de caminhada do Portinho àquele forte. Continuando, escreveu Olavo, cremos que Dirck Muller fosse chamado pelos portugueses, de Rodrigo Moleiro (aliás, Muller significa Moleiro).
As notícias sobre os engenhos do Rio Grande da época dos holandeses são divergentes: uma hora se fala em Cunhaú e Ferreiro Torto, noutra em Cunháu e Utinga, e mais uma outra em Cunhaú e Potengi. Um dos primeiros massacres aqui praticado pelos holandeses foi no Engenho de Francisco Coelho, para uns o Engenho Potengi, para outros o Engenho Ferreiro Torto.
Outra confusão grande surge quando se fala em Nova Amsterdam, Natal e Cidade Nova.
Grande parte do trabalho de Olavo de Medeiros Filho foi localizar, nos mapas de hoje, aqueles sítios históricos palcos de diversos acontecimentos da nossa história. Foi um trabalho grandioso, pois Olavo esteve nos mais diversos locais, mediu, fotografou e deixou as suas hipóteses sobre cada um deles.
Sobre Cidade Nova escreveu: no Relatório do Príncipe Maurício de Nassau ao Conselho dos XIX a 14 de janeiro de 1638, dá-se conta do propósito de formar-se uma outra cidade, em substituição a Natal: “Tem somente um cidade denominada Natal, sita a légua e meia do Castelo Keulen, rio acima, a qual agora se acha mui decaída. A Câmara desta Capitania está em Potingi com licença de S. Exc, e dos Supremos Conselheiros, trabalhando por agregar aí uma população que dê começo a uma cidade; dará aí suas audiências, e para esse fim levantará uma casa pública, contribuindo os moradores cada um conforme suas posses”
Em seguida escreve Olavo – O chamado Relatório Dussen, de 10 de dezembro de 1639, refere-se novamente ao assunto da criação de uma nova cidade: “Já teve uma cidadezinha chamada Cidade do Natal, situada a uma légua e meia do Castelo Keulen, rio acima, mas está totalmente arruinada, pelo que foi consentido aos escabinos e moradores levantar uma nova cidade em Potigi, pois é lugar fértil e melhor situado para os seus habitantes. Deverão construir de inicio um Paço da Câmara para aí terem o seu tribunal de justiça”.
Depois de outras referências, ele escreveu; a localização da Cidade Nova ou Amsterdam, apontada por Marcgrave, fica precisamente em terras hoje ocupadas pelo Colégio Agrícola de Jundiaí, a apenas 2 km de Macaíba, na direção sul.
Há no livro Sesmarias do Rio Grande do Norte, vol. 6, o registro de uma data de Sesmaria, com muitas partes ilegíveis e ementa com vários equívocos, onde se conclui que: Em 6 de Novembro de 1709, André Nogueira da Costa, capitão-mor da Capitania do Rio Grande concedeu carta de data de sesmarias a Ignácio Pereira de Albuquerque, Theodósia de Oliveira e Manoel Rodrigues. Pelo que se depreende do documento, as terras foram concedidas anteriormente a Theodosio da Rocha, sua filha Theodosia Oliveira, ao capitão João Leite Oliveira, Domingos Rodrigues Correia, Maria da Conceição e Clara da Costa.
Em uma parte desse documento está escrito: Ferreiro Torto da Cidade Nova da Capitania do Rio Grande. 1º de Novembro de 1709. Christovão Soares Reimão. Portanto, pelo documento acima o Ferreiro Torto estava encravado dentro da Cidade Nova, também conhecida por Amsterdam segundo Olavo.
Para concluir, sugiro que o Patrimônio Histórico do Estado do Rio Grande do Norte, em convênio com as nossas Universidades e outros órgãos públicos ou privados, mapeiem toda a nossa área histórica e instalem marcos nessas localidades
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