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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O autor
Helder Alexandre Medeiros de Macedo é historiador (2002) com as habilitações de licenciado e bacharel pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, instituição que também lhe conferiu os títulos de Especialista em Patrimônio Histórico-Cultural e Turismo (2005) e Mestre em História (2007), com área de concentração em História e Espaços. Atuou como professor de ensino superior (graduação e pós-graduação) na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), Faculdade do Seridó (FAS) e Universidade Potiguar (UnP). Prestou consultorias na área de patrimônio cultural em diversos inventários no território norte-rio-grandense. Seus interesses de pesquisa estão ligados à história sóciocultural da América portuguesa, índios, negros, mestiçagens, escravidão e patrimônio cultural. Atualmente, é doutorando em História do Norte-Nordeste pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Saiba mais sobre o autor clicando aqui.

Contatos dos autores
Maria Isabel Dantas – beldantas2@gmail.com
Helder Alexandre Medeiros de Macedo – heldermacedox@gmail.com
Monografia de Graduação em História, defendida em 2002 no Campus de Caicó,  Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob orientação do Prof. Muirakytan Kennedy de Macêdo.

Resumo
A temática desse estudo é a Questão Indígena no Seridó norte-rio-grandense. Tradicionalmente, a historiografia potiguar escrevera que as populações indígenas do Rio Grande do Norte haviam sido riscadas do mapa após as Guerras dos Bárbaros. Historiadores eruditos, que direcionaram seus enfoques para questões históricas regionais, evidenciaram a presença de índios nos assentos da Freguesia de Santa Ana entre os séculos XVIII e XIX (DANTAS, 1979; COSTA, 1999). Essas evidências empíricas nos serviram de pista para a pesquisa que empreendemos. A indexação dos registros de batismos, casamentos e óbitos da Freguesia da Gloriosa Senhora Santa Ana do Seridó, dentro do limite cronológico que vai de 1788 a 1857, nos permitiu encontrar populações indígenas junto aos demais grupos étnicos da região participando de rituais religiosos. Embora envoltos pelo mundo colonial, a pesquisa evidenciou alguns desvios das tradições cristãs entre os índios, como o sepultamento fora dos templos, o não recebimento de sacramentos e as uniões informais sem que fosse precisa a anuência da Igreja. A conclusão mais patente a que chegamos é a da presença indígena inconteste no Sertão do Seridó entre, pelo menos, a última década do século XVIII e as primeiras do século XIX, resultado que se contrapõe à idéia veiculada pelos estudos clássicos da historiografia norte-rio-grandense. A lógica que percebemos no Sertão do Seridó dos séculos XVIII e XIX é a da mestiçagem (GRUZINSKI, 2001a). Mundos e horizontes culturais se misturaram a partir de suas especificidades, suas representações e seus corpos: o dos brancos, o dos negros, o dos pardos e o dos índios. Esferas que se interseccionavam através de mestiçagens biológicas, quebrando as barreiras étnicas e sobrevivendo da mistura. A mescla de práticas cotidianas, de hábitos e de costumes provocaria mestiçagens culturais cujos resultados são visíveis até hoje no estrato identitário dos habitantes da região do Seridó. Se a sobrevivência biológica dos índios no Seridó – que só foi possível porque os mesmos elaboraram estratégias de resistência ao esquema dominatório do mundo ocidental – é um dos epílogos desse trabalho, o outro é a sobrevivência cultural dos índios, que, mesmo adormecidos ou embaralhados no restante da população, estão presentes nos pequenos hábitos e gestos do cotidiano. Conseguiram resistir silenciosamente, já que herdamos alguns de seus nomes na toponímia regional, em alguns de nossos paladares e acessórios domésticos de palha e de barro. Resistência esta que se expressaria através da circularidade cultural (C.f. GINZBURG, 1987) entre as culturas branca e indígena. A opressão colonial não suprimiu totalmente a ânsia de viver e tampouco os traços culturais dos índios. Esse estudo não conseguiu responder a todos os questionamentos. Contudo, as conclusões a que chegamos constituem um pontapé inicial na revisão da História Indígena do Rio Grande do Norte, por tantos anos encoberta pela máscara do etnocentrismo e da rejeição ao passado nativo. Num futuro próximo, se as pesquisas avançarem progressivamente, é possível que falemos de comunidades indígenas no Rio Grande do Norte atual, em mundos mestiços onde a retomada da identidade étnica só será possível pelo processo da etnogênese.

territórios e populações indígenas no sertão da Capitania do Rio Grande
Posted: 27 27UTC setembro 27UTC 2010 by Helder Macedox in 2007, Dissertação, Rio Grande do Norte, Seridó
Dissertação de mestrado defendida em 2007 junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob orientação da Profa. Dra. Fátima Martins Lopes.
Resumo
O objetivo deste trabalho é o de compreender algumas das modificações causadas pelo fenômeno da ocidentalização no sertão da Capitania do Rio Grande e na vida das populações indígenas que aí habitavam durante o Período Colonial. Partimos da discussão de Serge Gruzinski acerca da ocidentalização, entendida enquanto fenômeno imerso no contexto da expansão do capitalismo comercial e que, pela imposição da cultura ocidental às alteridades do Novo Mundo, emprende a conquista dos seus territórios, corpos e almas. O recorte espacial cobre o sertão da Capitania do Rio Grande, especificamente o território colonial da Freguesia da Gloriosa Senhora Santa Ana do Seridó. O limite cronológico escolhido para a pesquisa corresponde ao Período Colonial e parte do Imperial. Entretanto, a ênfase recai sobre o período que inicia em 1670, ano da mais antiga concessão de sesmaria – conhecida até o momento – no sertão do Rio Grande, estendendo-se até a década de 1840. Fontes de natureza manuscrita, impressa e cartográfica compõem o rol de documentos utilizados: correspondência e legislação oficiais, requerimentos de sesmaria, inventários post-mortem, justificações de dívida, registros de paróquia, mapas, ações cíveis, notas de cartório, demarcações de terra. Tomamos o método indiciário, problematizado por Carlo Ginzburg, para cruzar essas fontes entre si e detectar as suas particularidades e idéias subentendidas nas entrelinhas, mas, atribuindo a elas o status de um discurso colonial, fruto da burocracia de onde foi originado e do lugar social de quem o produziu. Procuramos demonstrar, ao longo do trabalho, que o fenômeno da ocidentalização desestruturou as sociedades indígenas e seu habitat, construindo, por cima dos seus escombros, um território colonial que encontrou na cartografia da Freguesia de Santa Ana um eficiente instrumento de controle do espaço e da população. Por outro lado, se a imposição da cultura ocidental exterminou grande parte da população nativa que habitava o sertão do Rio Grande, os remanescentes desses índios e os mestiços deles descendentes sobreviveram de diversas maneiras na Freguesia de Santa Ana: na condição de cativos de guerra ou em regime de trabalho servil, como moradores ou assistentes nas fazendas, povoações e vila; perambulando sem rumo nos campos e nas manchas populacionais; como agentes mediadores entre o mundo ocidental e o nativo, exercendo cargos militares ou civis.
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Uma oportuna colaboração de Alysson Soares

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